Uma Herança Católica

Durante décadas: prisioneiros africanos foram deportados ao Brasil em porões de navios sob a condição de escravos, eles se originavam de diversas regiões; conseqüentemente reuniram-se aqui membros de tribos distintas, com línguas e costumes próprios – muitas vezes rivais; no entanto, algo era semelhante entre todos: a FÉ nos ancestrais, os Deuses Africanos, os ritos e os ritmos.

Embora as raízes de nossa religiosidade sejam puras, aqui foram aculturadas com outras e sobretudo com a Igreja Católica, que agregou a todos os escritos da Bíblia.
Sem a possibilidade de tocar seus instrumentos e saudar seus Deuses, os africanos e seus descendentes foram absorvendo os ensinamentos bíblicos e caracterizando Orixás tal qual os Santos católicos.

Essa foi a forma encontrada pelos africanos para manter vivo o culto aos Orixás e Inkises, e, como as rezas eram cantadas em dialetos africanos: foi inteligente associar São Jorge a Ogum, ou Iemanjá à Nsa Sra dos Navegantes, mantendo o sincretismo como esteio da religiosidade durante séculos.
Alguns escravos catequizados aceitavam a existência de Cristo; no Quilombo de Palmares - por exemplo - foram encontrados altares com imagens católicas. A mitologia de uma nova religião, Afro-Brasileira, foi transmitida por muitas gerações e até hoje se faz presente no Candomblé, na Nação e na Umbanda.

Outra influência católica nos ritos africanistas é a Quaresma, o período de 40 dias que antecede a páscoa. Durante essa quarentena, o cristão irá se abster de festas, carnes vermelhas e deve jejuar até o domingo da ressurreição. Com isso, durante a escravidão os africanistas ficavam impedidos de praticar seus ritos, criando um costume que se reflete nos dias de hoje: fechar os Pejis no carnaval e resguarda-los até o sábado-de-aleluia, quando se realizam diversos preceitos para iniciação de um novo ano.

Atualmente africanistas dividem-se em dois grupos: os que praticam o resguardo da quaresma (maioria), e aqueles que apesar do respeito não concordam com a mistificação das entidades religiosas nem cultuam os Santos católicos.
A Quaresma é uma herança do tempo em que devíamos esconder nossos Orixás, uma imposição católica sobre a doutrina Africana, mas que atualmente não é vista com a agrassividade do açoite. Entre os religiosos de matriz africana há um grande respeito a fé cristã e períodos pascais são sempre envoltos por ritos e esperanças de uma vida renovada.


Colaboração Victor Hugo